“A vontade humana de saber é como a sede e a fome” – Professor Jorge Alberto Quillfeldt.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 20/10/2017 | Editado em 24/10/2017

Na palestra de abertura do 25º Encontro de Jovens Pesquisadores da UCS, pesquisador Jorge Alberto Quillfeldt, do Laboratório de Psicobiologia e Neurocomputação da UFRGS, incentiva bolsistas de iniciação científica a serem criativos e perseverantes. 

Pesquisador convidado para fazer a palestra de abertura do 25º Encontro de Jovens Pesquisadores e VII Mostra Acadêmica de Inovação e Tecnologia, o professor Jorge Alberto Quillfeldt (UFRGS) exaltou em sua abordagem a relevância da ciência para a formação pessoal e profissional.

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Quillfeldt falou sobre a pesquisa na carreira profissional e, citando o filósofo Bertrand Russell, compartilhou com o público – em sua maioria formado por pesquisadores e bolsistas de inicação científica e tecnológia, as três paixões que regem sua vida e a dos que se dedicam a prática científica: o desejo de ser amado, a procura pelo conhecimento e uma dor insuportável pelo sofrimento humano. A primeira refere-se à vida pessoal, a segunda ao compromisso profissional e a última à sensibilidade frente a injustiças e assimetrias. Essa foi apenas a primeira das referências do pesquisador a grandes estudiosos, por meio das quais promoveu uma contextualização científico-humanista sobre a pesquisa.

Doutor em Fisiologia, mestre em Bioquímica e licenciado em Física, Quillfeldt integra o departamento de Biofísica do Instituto de Biociências da UFRGS e dirige o laboratório de Psicobiologia e Neurocomputação, além de ter sido um dos fundadores do Programa de Pós-Graduação em Neurociências da instituição. O professor, que considera o programa de iniciação científica no país destaque mundial em solidez, envergadura e duração, destacou o potencial dos pesquisadores brasileiros, capazes de trabalhar, muitas vezes, com recursos limitados. “A paixão é um dos motores mais importantes. Um programa como esse é a porta de entrada para a ciência, permite conhecer a realidade diária do ambiente de pesquisa”, definiu.

Curiosidade

Para o pesquisador, a curiosidade é outro motor da ciência: citando Aristóteles, constatou o desejo comum entre os homens pelo saber, que se manifesta desde seu interesse em fofocas até nas indagações sobre o surgimento da vida na terra. “A vontade humana de saber é como a sede e a fome”, comparou. Ele reforçou a importância de nutrir essa busca ao estimular a curiosidade nos ambientes de ensino, vendo como heróis os professores que mantêm essa chama acesa. Quillfeldt concordou com o pensamento do matemático Hermann Bondi, de que as escolas tendem a ser o meio para ‘se livrar’ das crianças perguntadoras – e que as ‘sobreviventes’ tornam-se cientistas. “A ciência precisa dessas pessoas em maior número possível, pois elas serão, efetivamente, cidadãos contributivos”.

Conceitos

Como uma forma de conhecimento e de ver o mundo que envolve experimentação, a ciência avança resolvendo problemas e descobrindo outros mais novos. Em uma definição objetiva, Quillfeldt a considera sistemática, verificável e falível, a partir de hipóteses testáveis. Ainda, conceitua a atividade como um conjunto de métodos de comprovação, conhecimentos acumulados e postura crítica e cética diante da realidade. “Quando algo se diz científico é comprovável, reproduzido em qualquer lugar e precisa ser compatível com o conhecimento prévio”, afirma. Em um exercício que demanda muito trabalho, envolvimento e a convergência de experimentos, ele acredita que as melhores teorias são as que abarcam conhecimentos anteriores, novos e conseguem fazer projeções.

Incentivo

O estudioso recomendou aos pesquisadores não desistirem de ideias que possam parecer loucas, pois é dessa forma que a ciência avança. “É preciso ser curioso, criativo, perseverante e mandar ver”, provoca, afirmando que quem tem a oportunidade de passar pela iniciação científica estará mudado para sempre, entenderá em um nível diferente a produção de conhecimento. “Na carreira profissional, não importa a área, o conhecimento incute uma diferença”.

Na mesa da sessão de abertura, Romeu Luiz Bertuol, coordenador de Projetos da Pró-Reitoria de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico; Nilda Stecanela, pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação; o reitor Evaldo Kuiava; o professor Jorge Alberto Quillfeldt; e Guilherme Holsbach Costa, coordenador de Pesquisa.

Ciência básica

Quillfeldt aproveitou a oportunidade para apresentar as diferenças entre a pesquisa científica e a tecnológica que, embora distintas, se comunicam e se alimentam. Segundo ele, a ciência básica volta-se às perguntas e questões fundamentais. Partindo dessa base, a ciência aplicada dedica-se a conhecimentos específicos, enquanto a tecnologia concentra-se na implementação prática e a produção gera os equipamentos e instrumentos derivados do sistema.

Ao buscar respostas para questões amplas, a ciência básica não oferece retorno imediato dos investimentos, ao contrário da tecnologia. “É preciso unir-se para educar administração e política com o entendimento de que a ciência básica não pode ser descontinuada, oferece retorno em outra escala de tempo, mas, alimenta toda a cadeia com ideias novas. Esse financiamento não é a fundo perdido”, opinou.

Divulgação

Mesmo percebendo uma crescente divulgação da produção científica, o professor citou Marx ao reforçar a importância de não ser egoísta e compartilhar descobertas. “A obrigação primária é produzir, mas, também, é preciso compartilhar. Divulgar o que fazemos é correto e justo”, sustenta, observando que a atividade é financiada, em sua maioria, pelos impostos dos cidadãos. Nesse contexto, evidencia-se a necessidade de o cientista ser ‘poliglota’ para alcançar todos os públicos por meio de diferentes linguagens.

Fotos: Claudia Velho