Epicovid-19-RS: confira a mobilização acadêmica durante estudo da disseminação do novo coronavírus

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 09/10/2020 | Editado em 14/10/2020

Equipe da UCS conferiu suporte municipal a oito etapas da iniciativa coordenada pela Universidade Federal de Pelotas. Atividades engajaram voluntários na prática da pesquisa aliada às demandas sociais, oportunizando, ainda, a promoção da educação em saúde.

Com o envolvimento de mais de 80 profissionais e estudantes da área da saúde na aplicação de um número superior a 4 mil testes rápidos para a detecção da Covid-19 em Caxias do Sul, foram realizadas visitas a 500 domicílios em cada uma das oito fases da pesquisa Evolução da Prevalência de Infecção por COVID-19 no Rio Grande do Sul: Estudo de Base Populacional – EPICOVID-19. Os dados ilustram a mobilização no município caxiense para o estudo que investiga a disseminação do novo coronavírus na população do Estado, coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e executado regionalmente pelo Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), que conta com o apoio local da Universidade de Caxias do Sul.

Cada rodada, entre os meses de abril e setembro, demandou a dedicação dos participantes voluntários – trabalhadores do setor da saúde, docentes e acadêmicos de diferentes instituições de ensino, além de servidores públicos – durante três dias, incluindo treinamento para as atividades, inquérito populacional e testagem, conforme explica a professora Patrícia De Gasperi, coordenadora institucional das quatro últimas fases da pesquisa pela UCS, com o apoio da professora Daiane Vergani. Nos quatro períodos iniciais, as professoras Liliana Portal Weber e Marina Mantesso coordenaram as atividades locais. A Universidade ficou responsável pela logística local e seleção de candidatos, com a participação de alunos e professores também nas ações de campo.

As professoras Patrícia e Daiane exaltam o apoio de todos os envolvidos, lembrando dos voluntários que abriam mão de seu período particular de descanso, muitas vezes pós-plantão, para ir a campo, da superação do número de entrevistas pactuadas na seleção de candidatos e até de casos de participação em todas as etapas. “Foi notória a força do trabalho em equipe”, explicam, evidenciado na última rodada diante de desafios ocasionados por fatores como uma baixa expressiva no número de entrevistadores, o clima de frio e chuva e o fato de ser véspera de feriado. “Foi preciso criar estratégias e unir forças para concluir as entrevistas”, meta que foi cumprida com o apoio da União das Associações de Bairros (UAB) e da Brigada Militar. “Temos certeza que todo o esforço e empenho das diversas esferas proporcionou fortalecimento e confiança das relações entre Universidade, Secretaria Municipal de Saúde, UAB e a população, reafirmando a missão da UCS como universidade comunitária”, pontuam.

“Sem dúvida, para o conhecimento acerca do comportamento do vírus e o reconhecimento dos principais sinais e sintomas, é um estudo ímpar que permite que as autoridades envolvidas diretamente na tentativa de controlar o crescimento exponencial da pandemia analisem os dados e possam tomar medidas mais efetivas para garantir a segurança da população e a adequação dos serviços de saúde”, considera Patrícia, sobre o estudo inédito. A docente Daiane lembra que participar de uma pesquisa robusta, com o objetivo de contribuir com a ciência num momento histórico para o mundo, proporcionou fortalecimento e valorização dos trabalhadores da saúde. “Tivemos profissionais dispostos e motivados a realizar visitas domiciliares com o intuito de identificar casos positivos de Covid-19 e levando educação em saúde para as famílias, e a população disposta a participar”.

As professoras Liliana Portal Weber e Marina Mantesso consideram que trabalhar de forma conjunta e multidisciplinar em meio à pandemia de Covid-19, com o objetivo de buscar dados fidedignos a respeito do número de pessoas contaminadas na cidade de Caxias do Sul, representou um processo de cuidado, prevenção e promoção à saúde. “Além disto, a importância de unirmos instituições sérias na área de pesquisa consolidou o importante trabalho realizado entre uma grande equipe”.

Vivências

Ainda, a pesquisa foi oportunidade extra de os participantes atuarem na educação em saúde sobre a pandemia, de contato com a comunidade e suas diferentes realidades e de experiência interprofissional.

O aluno do nono semestre do curso de Medicina da UCS André Biegelmeyer Florian se uniu à equipe a fim de ter uma participação mais efetiva como profissional da saúde frente à pandemia, além de conferir o funcionamento prático de um estudo de grande porte, complementando a teoria de disciplinas como Bioestatística e Medicina Baseada em Evidências. “No campo, construí uma maior compreensão sobre o processo da pesquisa: por exemplo, tive uma noção bem ampla de como realizar um estudo randomizado. Também pude levar muita informação para a população em geral, o que acredito ser uma das formas mais efetivas de aprendizado. Acredito que o campo realmente demonstra quão heterogênea é a realidade da população, além permitir desenvolver habilidades de comunicação extremamente importantes em qualquer profissão que envolva interação com o público”, confirma, acrescentando a possibilidade de trabalhar sentimentos frente a frustrações, seja por uma recusa, seja por condições precárias de vida das famílias, entre outros aspectos.

Acadêmica de Enfermagem da UCS, no sétimo semestre, Gabriela Milan Trentin destaca a responsabilidade demandada pela seriedade da pesquisa, refletida na quantidade de informações que precisava dominar a partir dos treinamentos. A estudante, que integrou todas as rodadas a partir da quarta, lembra do suporte da equipe, das vivências e da disposição em participar. “Foi de muito aprendizado para mim”, avalia, lembrando que ao adequar as saídas a campo ao seu turno de trabalho, noturno, chegou a ficar 36 horas sem dormir. “Nada disso me impediu, não me arrependo de nada”, resume. Mesmo diante de recusas e de momentos de não receptividade por parte da população, compensavam aqueles que desejavam muito a oportunidade de serem testados. Muitas pessoas paravam a equipe apenas buscando informações, conforto a partir de uma conversa com profissionais da saúde. Ela já tem saudades dessa interação, “de se sentir um ponto de referência, que a pessoa confia em ti. Eu ainda não havia sentido isso”, considera. Outro desafio superado, esse no âmbito pessoal, foi a timidez, ao precisar adentrar a casa das pessoas, e o aperfeiçoamento a cada experiência de entrevista.

Profissional de Educação Física e docente na Anhanguera, Eliane Carla Kraemer trabalhou durante dez anos no Instituto de Medicina do Esporte da UCS, sempre atuou em pesquisa científica e identificou a oportunidade de ajudar a população em um momento difícil. “Isso, além de fazer pesquisa em campo, uma vivência muito rica de troca de conhecimento e de experiência com a população. Adorei todo o processo”, define, relatando o mesmo sentimento entre seus alunos que participaram da iniciativa.

O estudo

O estudo teve como intenção avaliar a prevalência de pessoas infectadas, o percentual de infectados sem sintomas e medir a velocidade de expansão do contágio na população do RS, permitindo ao governo embasar decisões a partir dos dados coletados para o enfrentamento à pandemia. Caxias do Sul é uma das nove cidades selecionadas para o inquérito populacional, trabalho realizado com o apoio da UCS. Saiba mais sobre os resultados de cada fase.

Imagens: Divulgação