“Para nos tornarmos tolerantes, precisamos superar nossa visão egocêntrica”.
Filósofo Thomas Kesselring, da Universidade de Berna, falou sobre Educação e Ética na Contemporaneidade durante conferência que marcou a abertura do semestre na área de Humanidades.
“Qual o objetivo da educação?”, questionou o filósofo Thomas Kesselring. Para um UCS Teatro praticamente lotado, o pesquisador suíço buscava traçar pontos capazes de explicar as motivações que fazem a sociedade focar seus esforços no ensino como forma de desenvolvimento.
“Um dos objetivos da educação é tentar influenciar a futura geração de tal forma que ela aprenda a não discriminar outras pessoas, e a se comportar de modo que não suscite nem rancor, nem discriminação”, refletiu o estudioso, durante a Conferência de Abertura da Área de Humanidades, no dia 14 de março. A esse objetivo, somam-se a meta de criar cidadãos maduros e também de formar pessoas capazes de elaborar questões sobre justiça.
Para dar conta das relações entre Ética e Educação, o pesquisador suíço, docente visitante do Programa de Pós-Graduação em Educação, destacou seis pontos para compreensão desses dois temas.

O adulto e a criança
O primeiro ponto destacado por Kesselring trata do modo como o adulto deveria proceder na educação infantil. Para ele, é importante dar à criança autonomia na tomada de decisões. Com isso, ela poderá ser capaz de respeitar as diferenças e compreender os direitos básicos. Ele explica que nem sempre o pequeno está apto a considerar certos conhecimentos. Mas, ainda assim, é possível desenvolver um diálogo, como quando a criança questiona: “por que a lua não cai?”. O filósofo salienta que explicar a gravidade seria bastante complicado nessa etapa da vida e alerta que, para essa situação, poderia se devolver a pergunta: “por que você acha que ela não cai?”. Nessa dinâmica são trabalhados aspectos da criatividade e autonomia da criança.
Atitude diante da educação
No entanto, tal autonomia precisa ser balizada por limites. Nesse sentido, nem as correntes autoritárias da educação e tampouco as escolas antiautoritárias alcançam um equilíbrio no modo de ensinar. “O educador deve abrir caminhos para a liberdade da criança”, reflete o filósofo, destacando o papel das escolas interacionistas da educação. Essa atitude em torno da autonomia do estudante é o segundo ponto elencado pelo palestrante como crucial para as aproximações entre ética e educação.
Nas Escolas Autoritárias, encontra-se um sistema em que os limites não permitem a liberdade do estudante. Já nas escolas antiautoritárias, há uma liberdade sem limites. Ambos modelos apresentam carências, conforme o pesquisador. “O educador deve abrir caminhos para a liberdade da criança. Isso também envolve limites”, esclarece.
Aspecto ético
Para Kesselring, compreender o aspecto ético que envolve a educação depende da compreensão dos conceitos como compaixão e empatia. Nesse sentido, há espaço para os educadores transmitirem normas morais. O filósofo aponta ainda um campo de atuação em que as emoções geram atitudes e possibilitam a aprendizagem de direitos básicos. “Porque não poderíamos alfabetizar na linguagem dos sentimentos”, instiga o pensador.
Superação do egocentrismo
No processo de educação, a superação do mundo egocêntrico da criança passa necessariamente por aprendizagens que foquem na desconstrução de certos parâmetros, como, por exemplo, a ideia que o pequeno tem de que o outro (seja colega, pais ou professor) vive o mesmo sentimento que o dele. Essa etapa é crucial porque há maneiras de se fazer essa confrontação e que vai culminar com a regra de ouro: “não faça ao outro aquilo que não quer que façam pra ti”. O processo acaba sendo importante para ensinar a criança a fazer ações de descentração para que desenvolva a tolerância e evite os atos de discriminação; atos egocêntricos.
Justiça
É um conceito ético. No sistema do ensino, ocorre um princípio da igualdade de oportunidades e quer dizer que as crianças com o mesmo desempenho e as mesmas realizações tenham as mesmas chances. O princípio se liga à ideia de competição, mas deve-se observar que a competição deve ser justa. Portanto, as instituições de ensino devem avaliar as capacidades e compará-las. Esse princípio é importante para permitir às crianças tornarem-se autônomas.
Economização
Kesselring alertou, porém, que contra a ideia de ensino que não segrega, faz crescer e se amplia o conceito de justo se contrapõe uma ideia de comercialização da educação. Diante dessa realidade presente na contemporaneidade, sistemas didáticos se proliferam no ambiente educativo com objetivo único de criar lucros a grandes corporações. O filósofo pontuou, porém, que esse caminho é pouco efetivo e afeta o campo da pesquisa que vê suas descobertas comprometidas apenas com o aspecto financeiro.

De máscaras para desmascarar a realidade
Antes da palestra com Thomas Kesselring, acadêmicos e professores assistiram ao espetáculo “O Ninguém – Teatro de Máscaras”. A peça narra a história de quatro personagens, interpretados pelo ator chileno Cristian Beltrán. A encenação busca fazer uma fotografia do funcionamento do sistema atual e seus tecidos sociais. Com um formato popular, a peça faz uma crítica a problemas comuns da América Latina, entre eles a discriminação da pobreza e a dificuldade de afirmação da cidadania dos mais excluídos. Cada personagem é representado por uma máscara, a técnica realça as peculiaridades de cada uma das histórias. O formato popular foi tão bem aceito pelo público que aplaudiu de pé a interpretação.
Fotos: Claudia Velho
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