Pesquisadores da UCS desenvolvem método para produção de grafeno.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 17/12/2018 | Editado em 16/01/2024

Material mais leve e resistente que existe, com altíssima condutividade térmica e elétrica, é obtido a partir do grafite e possui diversas aplicações em alta tecnologia.

Pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul desenvolveram um método próprio para produção de grafeno com alta pureza. Inicialmente em pequena escala, a produção é voltada à obtenção de material para pesquisas científicas desenvolvidas na instituição, nas áreas de nanotecnologia, medicina regenerativa, revestimentos avançados e segurança militar. O domínio da técnica produtiva, no entanto, poderá permitir o desenvolvimento de outras aplicações em diversas áreas em que o material – o mais leve e resistente que existe, com excelente condutividade de térmica e elétrica – pode ser implementado.

O grafeno é uma das formas alotrópicas do carbono, assim como o diamante, o carvão e o grafite (do qual é oriundo), caracterizando-se pela organização hexagonal dos átomos. Foi isolado pela primeira vez em 2004, na Inglaterra, em uma pesquisa que resultou no Prêmio Nobel de Física. Seu uso permitirá desenvolver novos materiais, com elevadíssima resistência mecânica, capacidade de transmissão de dados e economia de energia, substituindo materiais que já têm décadas de uso. As aplicações iniciais se voltam para a nanotecnologia, na produção de chips de computador, telas e displays LCD e touchscreen de televisores, computadores e celulares e componentes eletrônicos.

Subsídio para pesquisa – De acordo com o professor Otávio Bianchi, pesquisador dos programas de pós-graduação em Engenharia e Ciência dos Materiais e em Ciências da Saúde da UCS, o método desenvolvido a partir da redução do grafite oxidado pode ser uma alternativa para obtenção de grafeno de elevada pureza. “O grande problema ainda é o custo de produção, pois a purificação até se chegar no grafeno exige várias etapas”, observa.

O grafeno é obtido com a reordenação das moléculas do grafite para o formato hexagonal. Além da remoção do óxido, o processo atua na retirada de metais aderidos ao grafite. A produção da UCS, em pequena escala, destina-se à utilização do material para pesquisas. No mercado, a produção me escala industrial tem custo superior a 100 dólares o grama.

De acordo com Bianchi, a grande vantagem da produção própria é o domínio da tecnologia, compreendendo-se a constituição e as funcionalidades do material, o que amplia as possibilidades de pesquisa aplicada. O avanço de conhecimento científico sobre um material com larga utilização também permite a geração de inovação, antecipando-se aos movimentos de mercado na criação de soluções para as mais diferentes demandas.

Soluções para empresas
O professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos e Tecnologias Diego Piazza, coordenador de um seminário sobre os estudos e as aplicações do grafeno promovido pela UCS em junho passado, observa que o desenvolvimento de pesquisas sobre o material volta-se à “criação de soluções para necessidades das empresas, contribuindo com a criação de novos negócios e de novas perspectivas para a matriz produtiva de Caxias do Sul e da região”. No seminário foram abordados o uso industrial e as aplicações do grafeno no cotidiano, as perspectivas futuras de utilização do material e como essas novas aplicações podem contribuir para a expansão da economia regional.

Convênio com a Universidade Mackenzie
O seminário também foi cenário para assinatura de um convênio entre a UCS e a Universidade Mackenzie, de São Paulo, estabelecendo um acordo de cooperação para o desenvolvimento conjunto de projetos de pesquisa, conhecimento, treinamento e capacitação de pessoas em pesquisas avançadas sobre o grafeno.

Para o reitor Evaldo Kuiava, a produção de grafeno por pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul “demonstra a vocação inovadora que caracteriza a trajetória da instituição e que a destaca, atualmente, no cenário científico-tecnológico nacional”. Por meio do Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação – TecnoUCS, esses procedimentos estão sistematizados de modo a transformar pesquisa básica e pesquisa aplicada em soluções para o mercado, com a intermediação do poder público, dentro do conceito de tripla hélice do desenvolvimento socioeconômico, no qual a academia consta como produtora do conhecimento. “Assim, ao investir em pesquisa e gerar inovação estamos cumprindo nosso papel em prol do desenvolvimento do país por meio da ciência e da tecnologia”, destaca.

As pesquisas na UCS sobre o uso do grafeno

Três professores coordenam, na UCS, pesquisas que se baseiam na utilização do grafeno, em diferentes áreas:

Medicina regenerativa – O professor Otávio Bianchi, dos programas de pós-graduação em Engenharia e Ciência dos Materiais e em Ciências da Saúde, estuda aplicações futuras nas áreas de materiais e da saúde. Entre as perspectivas está a criação de hidrogéis híbridos de poliuretano com grafeno, capazes de modular ambientes químicos de células. Isso abriria condição de uso na medicina regenerativa, contribuindo até mesmo com a recomposição de tecidos do corpo humano.

Nanotecnologia – Tiago Cassol Severo, doutorando em Nanotecnologia e coordenador do Núcleo de Apoio ao Ensino de Física do Campus Universitário da Região dos Vinhedos, realiza estudos com óxido de grafeno para a produção de supercapacitores, componentes utilizados em circuitos eletrônicos. O intuito é melhorar a capacidade de processamento de dados e a memória de dispositivos como telefones celulares, tablets e notebooks, bem como o aumento da velocidade de carga e de armazenamento das baterias.

Absorção de óleos – O coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos e Tecnologias, Ademir José Zattera, efetua, desde 2005, pesquisas com nanoestruturas de carbono aplicadas em polímeros. Com a introdução do grafeno, os estudos mostram o aumento de qualidade, eficiência e resistência de telas touchscreen, células solares e solventes – cuja capacidade de absorção de óleos é triplicada com a adição do grafeno.

Tecidos inteligentes e segurança militar – Outro estudo coordenado por Zattera envolve a aplicação do material em aerogéis, pode dar origem a tecidos inteligentes, gerando vestimentas com elevada capacidade de isolação térmica. Por fim, a UCS também executa, para o Exército brasileiro, pesquisas para a inserção de grafeno em coletes e capacetes, visando ao aumento da resistência a impacto destes equipamentos de segurança.

SAIBA MAIS

– O grafeno é uma das formas alotrópicas do carbono, assim como o diamante, o carvão e o grafite, do qual é oriundo, caracterizando-se pela organização hexagonal dos átomos. Foi isolado pela primeira vez em 2004, na Inglaterra, pelos cientistas Andre K. Geim e Konstantin S. Novoselov, em uma pesquisa que ganhou o Prêmio Nobel de Física.

Caracteriza-se por ser um material de elevada transparência, leve, maleável, resistente ao impacto e à flexão, ótimo condutor de calor e de eletricidade, entre outras propriedades.

O grafeno é o material mais leve e resistente do mundo, superando até mesmo o diamante. Para se ter uma ideia, uma folha de grafeno de 1 metro quadrado pesa 0,0077 gramas e é capaz de suportar o peso de até 4 kg.

Também é o material mais fino que existe (da espessura de um átomo, ou 1 milhão de vezes menor que um fio de cabelo).

É, ainda, um material com elevada condutividade elétrica. Isso porque os elétrons se movem através do grafeno praticamente sem nenhuma resistência e aparentemente sem massa, o que faz com que ele transporte eletricidade de forma muito rápida, eficiente e precisa.

Por ser uma tecnologia disruptiva, o grafeno tende a competir com tecnologias existentes e substituir materiais que já tem décadas de uso. Seu uso permitirá desenvolver novos materiais, com elevadíssima resistência mecânica, capacidade de transmissão de dados e economia de energia.

Como material de alta engenharia, suas aplicações se voltam para a nanotecnologia, na produção de telas e displays LCD e touchscreen de televisores, computadores e celulares, mais resistentes e flexíveis, componentes eletrônicos com altíssima capacidade de armazenamento e processamento de dados, baterias de recarga instantânea, entre outras, além de desenvolvimento de polímeros, tintas e solventes mais resistentes, tecidos inteligentes e equipamentos de segurança.