Novo programa de estágios da Universidade contribui para que estudantes qualifiquem o aprendizado, ingressando de forma dirigida no mercado de trabalho, ao mesmo tempo que contempla necessidades de instituições interessadas em investir na capacitação de futuros profissionais.

> Matéria publicada na Revista UCS de novembro/dezembro de 2018. Acesse!

Em março de 2018, a estudante de Psicologia Natália Caumo Giovanaz resolveu que era hora de articular os conteúdos aprendidos em sala de aula com a profissão. Foi atrás de um estágio remunerado na área organizacional e acabou encontrando uma vaga no setor de Recursos Humanos da Viação Santa Tereza, a Visate.

“Pensando no mercado de trabalho e na atuação profissional, pesquisei sobre o psicólogo organizacional e me interessei pela área. Acredito que estágios nos auxiliam a colocar em prática muito do que vemos em aula e ainda proporcionam um campo de experimentação para que possamos identificar as áreas do curso pelas quais temos interesse ou não”, sintetiza.

Natália é uma entre os 740 mil estagiários remunerados que estudam no Ensino Superior no Brasil. Dados da Associação Brasileira de Estágios indicam que há uma diferença bastante acentuada entre os estudantes aptos a realizarem algum tipo de estágio e os realmente alocados no mercado de trabalho. As estatísticas mostram que, de um total de 17,6 milhões de estudantes, apenas 5,68% estagiam.

Mediação de relações
Na tentativa de facilitar a aproximação dos acadêmicos com as possibilidades de estágios, a Universidade de Caxias do Sul desenvolveu o programa UCS Carreiras. O objetivo é intermediar a relação entre estudantes e empresas, em dois níveis: por meio do contato com organizações, fortalecendo a atuação comunitária institucional; e, para os estudantes, auxiliando na trajetória acadêmica ao possibilitar novas inserções no mundo do trabalho e reforçar a empregabilidade.

De acordo com o diretor Administrativo e Financeiro da Universidade, Candido Luis Teles da Roza, o programa também nasce para facilitar uma demanda legal. Com a implantação do eSocial (sistema que unifica o envio de informações sobre os trabalhadores de cada empresa ao governo federal), os estágios passam a contar com a inclusão da modalidade contratual no registro. O novo procedimento exige, assim, uma identificação direta do estudante com a empresa em que atua, o que melhora a fiscalização do estágio e evita distorções em relação à finalidade do contrato.

“Como Universidade, podemos prestar uma orientação e um serviço à comunidade, às empresas e às organizações, e facilitar a colocação de acadêmicos no mercado de trabalho”, explica Candido, acrescentando que a iniciativa também vai contemplar alunos do Centro Tecnológico, a escola de Ensino Médio da UCS. “A colocação do nosso aluno neste novo modelo gera estabilidade e também uma prestação de serviços de orientação, a partir do eSocial”, complementa.

Candido reforça que a atuação do estagiário precisa estar vinculada à área de conhecimento da graduação do estudante. Essa ampliação da fiscalização e o novo nível de exigência buscam garantir que não haja uma desvirtuação do estágio, evitando que se transforme em mera substituição da mão de obra.

Dessa forma, o programa contribui para que os alunos estejam em relações adequadas, exercendo o estágio apropriado e diretamente vinculado à área do conhecimento que estuda. A UCS, sintetiza o diretor, terá um papel duplo, auxiliando as empresas a executarem os trâmites legais de maneira correta, sem qualquer comprometimento, e assegurando ao estudante que, no estágio, a teoria aprendida no contexto acadêmico seja aplicável à rotina de trabalho.

Qualificação do aprendizado
A ideia é que todos os acadêmicos, dentro de um estágio remunerado, possam vivenciar a experiência que Natália tem atualmente. Na atividade, a estudante de Psicologia realiza seleção de pessoal para a empresa em que trabalha, podendo aprender desde o início do processo, com a seleção dos currículos analisados, até o final, com a admissão do candidato.

Além do início do exercício da profissão, o estágio é também momento de analisar diretamente se a escolha de carreira pretendida foi acertada. De forma dinâmica, o estudante experimenta diretamente situações do cotidiano laboral. Conforme Natália, o estágio a ajudou na escolha de carreira justamente por proporcionar a vivência tanto da Psicologia, acompanhando a psicóloga da empresa, como do dia a dia da organização.

“Acredito que, com boas experiências, é fácil definir aquilo que queremos seguir na carreira que escolhemos. Eu me vejo realizada por ter sido tão bem acolhida pela empresa, e privilegiada por ter conseguido realizar meu sonho de estagiar na área do meu curso, em uma área que despertou meu interesse”, contextualiza.

Elo com o mercado
A experiência da estudante ilustra o foco de trabalho do programa UCS Carreiras. A partir de 2019, os acadêmicos da Universidade poderão cadastrar seu currículo junto à Central de Atendimento ao Aluno para se candidatar às vagas oferecidas. Atualmente, tem sido realizado um mapeamento das necessidades do mercado de trabalho, com o levantamento de demandas das organizações, explica a coordenadora do programa, Vera Lucia Brandalise Dal Bello.

Conforme ela, a iniciativa busca demonstrar para o estudante que, além da graduação, haverá perspectivas de encaminhamento para o mercado. “Queremos dar ao nosso acadêmico a possibilidade de ter um estágio e ser um futuro profissional. Vamos fazer isso em conjunto, unindo Universidade, estudantes e empresas”. Com o perfil do estudante registrado, será possível disponibilizar soluções de estágio compatíveis com as demandas das organizações.

A intenção inicial é focar no campo de estágios também como forma de dar segurança às empresas que realizam esse tipo de contratação. “Para as organizações e entidades, o programa UCS Carreiras vai ser uma referência na hora de encontrar um estagiário. Para os estudantes, de diferentes níveis de ensino, seremos uma grande possibilidade de inserção no mercado de trabalho”, reforça Vera.

A coordenadora ressalta que, no programa, o estágio é entendido como algo muito além de ofertar mão de obra para as empresas, investindo no aperfeiçoamento profissional. “Atualmente, as empresas estão deixando de ver o estagiário como aquele que serve para serviços secundários. Ela vai formando o profissional, aproxima-o do perfil organizacional e passa a enxergar o estagiário de hoje como o profissional de amanhã”, descreve.

Agregação de experiência e de conhecimento

O engenheiro civil Henrique Caon, 28 anos, formado pela UCS em 2016, conhece bem o potencial que um estágio pode ter para alavancar a carreira. Hoje ele atua em uma empresa de engenharia de Bento Gonçalves na qual iniciou sua trajetória no mercado como estagiário. “Foi uma experiência muito importante, porque levou à minha efetivação. Consegui experiência e agreguei conhecimento ao meu currículo”, relata.

Durante o período em que conciliou estudo e trabalho Henrique pôde acrescentar uma dose diária de conhecimentos com o aprendizado compartilhado com os profissionais que já atuavam na área. “Uma das circunstâncias que mais me marcaram durante o estágio foi aprender com pessoas mais experientes. São coisas que se aprende na vivência e prática do dia a dia”, destaca.

Para quem cogita em seguir pelo caminho do estágio, o engenheiro recomenda a experiência, destacando a importância de variar, na atuação como estagiário, as áreas em que se pode atuar na profissão. Isso ajuda na assimilação do trabalho e a clarear quanto ao direcionamento de carreira. “É importante fazer vários estágios, em diferentes campos de atuação do curso, para se ter certeza da área que mais agrada”, observa.

Depois de concluir a graduação e ser efetivado na empresa, Henrique tem certeza de que construiu uma carreira sólida e bem alicerçada, ainda que com pouca idade. “De certa forma é sim uma afirmação de que trilhei o caminho certo desde o estágio”, finaliza.